quinta-feira, 14 de abril de 2011

10/08/2010

Vísceras em versos
escritos com o que me resta
minha bílis estética
escorre pelo esgoto
desta rua vazia

e contempla-os os ratos
que vasculham até os
mínimos traços
em busca de algum estilhaço
de herética poesia

e devoram
letra por letra,
palavra por palavra
e cospem
reticências e vírgulas
e degustam
frase por frase,
num frenético festim de rimas

e riem-se
e lambem-se
e adormecem fartos
e regozijam em sórdidos sonhos sacros
e sublimam, é claro,
nas entrelinhas...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Canção de amor (canção lisérgica)

Ela chegou suave
como o mais doce
esquecimento
sem nada dizer
sem nada perguntar

era noite
a chuva caia
insano alento
pílulas de alegria
soltas no ar

fique
enquanto a luz não vem
ofereça seu corpo, sua alma,
um sorriso
o deserto se alastra por cada fresta
fique, quero a ilusão do seu abrigo

Enquanto a luz não vem
Enquanto a luz não vem
Enquanto a luz ...

Enquanto o sol não vem
com seu calor rasgar minha pele
com seu brilho afastar as sombras
com sua luz disfarçar a escuridão
dos dias

Ela surgiu
a noite passada
se foi e me deixou
sete cápsulas vazias
Encontro-me

nos vestígios dos sonhos

inalcançáveis



por entre folhas em branco

que este outono

não quis rabiscar



como quem no deserto

se apaixona pela miragem

e abraça a imagem

a ser perder no ar



nos meus olhos

as lembranças das cores

que outrora

encantaram meus dias



uma nova estação bate à minha porta

o inverno desenha suas marcas

sobre minha pele fria



marcas que não cicatrizam

mas se transfiguram em rotos versos

imersos

na minha vontade de voar



tranco-me num silêncio sombrio

e aguardo sem espasmos



pois quando o sol mostrar sua cara

vou abrir minhas asas e



adeus...