sábado, 18 de setembro de 2010

Elegia

em dias como este
recordo tempos distantes
seu sorriso, seu carinho
suas mãos fortes e grandes

o tempo é caprichoso
mofa alegrias, petrifica vontades
silencia...

como pode estar tão distante
dividindo a mesma casa

suas mãos já não têm força
a boca sem dentes
não tem assunto

só estes gestos repetitivos
esta cruel rotina
queria saber para onde vais
quando seu corpo recosta no sofá
quando fica parado no tempo, só olhando, o tempo

o tempo
caprichoso
emudece sentimentos
distancia abraços
amarga desejos
silencia tudo

em dias como estes
penso
como posso sentir tantas saudades de você
mesmo estando aqui
Sozinho,
como quem caminha a esmo
imerso em recordações
dia após dia
a vontade silencia
a alegria
um fotografia
que o tempo apagou

sua voz
o eco dos seus desejos
nicotina entre os dedos
cicatrizes que o tempo deixou

alguém que conheça
de perto a dor
que olhe pra trás sem temer
me diga como conviver consigo mesmo
sem se cortar

aos que virão...

não me deixe vos contaminar
se o faço é mero acaso
vivo tempos sombrios
trago o olhar destreinado para beleza

talvez seja absurdo
sou mesmo de excessos
há alguém limpo o bastante para me condenar?

fracassei em tudo que sonhara
coleciono derrotas e as contemplo
nos versos que escrevo

mas nem sempre foi assim
já amei como poeta
me embebedei em vinhos e lirismo
nos shows de rock
exorcizava o dia-a-dia

andei de mãos dadas
com deus e o diabo

mas hoje, quando me vejo assim
completamente nu
sem acreditar em nada além
do toque das mãos

peço;
não me deixe vos contaminar
confesso, só tenho a vocês,
mas não deposito esperanças
estou aqui por pura teimosia

(?) Lembra-se...

Lembra-se de quando a vontade
transbordava em nossos músculos
e girávamos sob um límpido céu azul

Lembra-se de quanto qualquer
olhar desconhecido nos encantava
e brincávamos de inventar novos mundos

Lembra-se, quanto tempo faz?
quanto tempo...

Meu amigo, chegamos... o mundo prático
com seus despertadores
e sorrisos fáceis
com seus números
e dedos ágeis

Meu amigo, seja bem vindo...
enfim, chegamos!

Poderíamos evitar?

Meu amigo, quando for o momento,
não se esqueça de deixar
uma dose pra mim.

Agosto

com um lápis sem cor
contorno o nada
resignificando a ausência
que sinto em mim

quando o silêncio transborda
torno-me palavra
pois o que sou não comporta
o absurdo de existir