sábado, 26 de janeiro de 2013


O homem
sentado no jardim
acordou o sol
ansioso pra ver nascer
a primeira flor da primavera
a primeira, a mais bela

a recebeu com um sorriso
acanhado
seu desejo aqueceu
e se esqueceu para onde iria
e deixou pra trás
a noite fria
e deixou pra trás
a casa vazia

nada, nada mais além

e o eterno que certos segundos guardam
desabrochou diante dos
seus olhos cansados
de tanto esperar
de tanto querer
de tanto não ser
de tanto não ter
de tanto morrer e acordar e se pintar
pra poder enfeitar
as ruas da cidade sem cor.

Abraçaço

Caetano,
confesso,
no Cê sinto
seus braços
mais firmes.

domingo, 27 de novembro de 2011

sentimentos umedecidos (ou Angústia)

Quarto escuro
rançoso, húmido.
Coberto por trapos
pés descalços sobre os planos
despedaçados.

O olhar transpassa
a muralha
que avista da janela.
Além,
deserto e silêncio.

Pele enrugada
traços de terra seca
abraça o próprio corpo
tentando afugentar o frio

um quarto sem luz
paredes nuas
sem tamborete, sem corda
e o intransitivo pensamento:

- se ao menos eu pudesse lavar as mãos!

Poema ao acaso

quinta-feira, 14 de abril de 2011

10/08/2010

Vísceras em versos
escritos com o que me resta
minha bílis estética
escorre pelo esgoto
desta rua vazia

e contempla-os os ratos
que vasculham até os
mínimos traços
em busca de algum estilhaço
de herética poesia

e devoram
letra por letra,
palavra por palavra
e cospem
reticências e vírgulas
e degustam
frase por frase,
num frenético festim de rimas

e riem-se
e lambem-se
e adormecem fartos
e regozijam em sórdidos sonhos sacros
e sublimam, é claro,
nas entrelinhas...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Canção de amor (canção lisérgica)

Ela chegou suave
como o mais doce
esquecimento
sem nada dizer
sem nada perguntar

era noite
a chuva caia
insano alento
pílulas de alegria
soltas no ar

fique
enquanto a luz não vem
ofereça seu corpo, sua alma,
um sorriso
o deserto se alastra por cada fresta
fique, quero a ilusão do seu abrigo

Enquanto a luz não vem
Enquanto a luz não vem
Enquanto a luz ...

Enquanto o sol não vem
com seu calor rasgar minha pele
com seu brilho afastar as sombras
com sua luz disfarçar a escuridão
dos dias

Ela surgiu
a noite passada
se foi e me deixou
sete cápsulas vazias
Encontro-me

nos vestígios dos sonhos

inalcançáveis



por entre folhas em branco

que este outono

não quis rabiscar



como quem no deserto

se apaixona pela miragem

e abraça a imagem

a ser perder no ar



nos meus olhos

as lembranças das cores

que outrora

encantaram meus dias



uma nova estação bate à minha porta

o inverno desenha suas marcas

sobre minha pele fria



marcas que não cicatrizam

mas se transfiguram em rotos versos

imersos

na minha vontade de voar



tranco-me num silêncio sombrio

e aguardo sem espasmos



pois quando o sol mostrar sua cara

vou abrir minhas asas e



adeus...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

genealogia

Há 30 anos nasceu um idiota
que se tornou estúpido
- Como sei disso?
Ele persiste em existir...